• 30.12.2020
Parque Vida Cerrado busca fortalecer a cadeia da restauração ambiental

 Essencial para garantir a sustentabilidade agrícola e a conservação da biodiversidade, o fortalecimento da cadeia da restauração ambiental depende da estruturação da rede de coletores de sementes. O Parque Vida Cerrado – primeiro e único centro de conservação da biodiversidade, pesquisa e educação socioambiental do Matopiba, localizado em Barreiras, no Oeste baiano, foi protagonista na mobilização para criação da rede de coletores e, agora, está empenhado em sua consolidação, ainda não concretizada na região.

O novo momento da restauração ambiental na região tem como marco as ações do Conecta Cerrado – projeto financiado pela iniciativa global Parceria para o Bom Desenvolvimento (The Good Growth Partnership), que é executado no Brasil pela Conservação Internacional, em parceria com o Instituto Lina Galvani e o Parque Vida Cerrado. A iniciativa pioneira na região Oeste da Bahia busca o levantamento de fauna nas reservas legais e APPs rurais, em especial das fazendas ligadas à produção de soja nos municípios de Barreiras e Luís Eduardo Magalhães.

Através destes dados faunísticos, obtidos a partir do monitoramento da espécie Chrysocyon brachyurus (lobo-guará), será possível avaliar a efetividade das áreas protegidas, identificar corredores ecológicos, apontar áreas com potencial para ampliação, estimular a conectividade dos remanescentes florestais para propiciar maior sustentabilidade às propriedades agrícolas e assegurar a conservação da biodiversidade. Além da restauração de áreas degradadas e da criação de novas unidades de conservação, o projeto prevê a implantação de sistemas agroflorestais, estruturação e fortalecimento da cadeia da restauração.

Para consolidação da cadeia da restauração, merecem destaques as ações do Parque Vida Cerrado para disseminação do conhecimento técnico-científico, a reestruturação da rede de coletores de sementes e a implantação e funcionamento de um viveiro referência na produção de espécies nativas, que devem contribuir para a concepção de um modelo de negócio referência na restauração florestal e na obtenção de metodologias para avaliações de áreas prioritárias.

 

AÇÕES EM ANDAMENTO

 

“O primeiro passo foi conhecer o funcionamento da cadeia. Através de pesquisa buscamos entender os interesses, desafios e dificuldades para efetivação dos projetos. Com base nesses dados, iniciamos as reuniões com coletores de sementes, viveiristas, produtores rurais e técnicos para entendimento da demanda e oferta, os serviços necessários e o grau de satisfação com os serviços executados na região. A partir disso, elaboramos o modelo de negócio do Centro de Restauração Ecológica do Parque Vida Cerrado – uma proposta que trouxesse benefícios e alavancasse a cadeia da restauração, que foi validada pelos diferentes atores envolvidos no processo”, explica o engenheiro florestal e designer de projetos sustentáveis, Marcelo Cortez, da Cortez Soluções Ambientais.

Definido o plano de negócios, o parque deu início às capacitações direcionadas aos consultores ambientais que elaboram e executam projetos de restauração em áreas degradadas, com a participação de representantes de instituições públicas da esfera municipal e estadual ligadas ao meio ambiente, ONGs, sindicatos rurais, cases de sucesso e agentes financiadores, com o objetivo de levantar as principais dificuldades encontradas pelos profissionais e promover um diálogo entre todas as partes envolvidas a fim de tornar o processo menos burocrático, mais acessível e mais bem-sucedido na região. A partir da realização deste evento, que aconteceu na modalidade online e que foi um grande sucesso, o parque deu início ao cadastro de consultores do Centro de Restauração, que ainda devem receber novas capacitações.

O foco agora está voltado à formalização do grupo da rede de coletores de sementes da região Oeste da Bahia, que já existe em Luís Eduardo Magalhães desde as primeiras ações de sua criação, ainda em 2011. Com a criação de uma associação/cooperativa, o parque oferecerá capacitação aos diferentes elos da produção da semente em intercâmbio com outros grupos e auxiliará na elaboração do modelo de negócios da rede de sementes, que contará com produtores rurais (suas áreas de coleta), viveiristas, consultores e coletores de sementes.

 

VIVEIRO COMERCIAL

 

Estão em andamento também as ações para implantação e funcionamento de um viveiro referência na produção e distribuição de mudas de espécies nativas e na prestação de todos os serviços da cadeia de restauração, no diagnóstico de áreas degradadas, na execução e no monitoramento: resultado de elaboração do plano de negócios do novo viveiro do Parque Vida Cerrado que buscava, desde o ano de 2017, adequar sua estrutura e documentação para atendimento comercial de demandas do agronegócio. O parque, que já detém a função inicial de viveiro educador, possui expertise na produção de 25 espécies nativas da região e deve ampliar ainda mais o seu portfólio. Ao longo de 13 anos de existência, já distribuiu aproximadamente 200 mil mudas.

Outra grande conquista nesta direção se deu com a obtenção do certificado de inscrição no Registro Nacional de Sementes e Mudas (RENASEM), junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), para atuar na produção de mudas como viveiro comercial e concretizar a expectativa de tornar-se o maior viveiro em quantidade e variedade de espécies nativas. Já regularizado, a expectativa é de que o viveiro entre em operação em 2021 e de que, num prazo de cinco anos, produza pelo menos 40 espécies nativas da região.

Para alcançar estas metas, atender aos objetivos do Projeto Conecta Cerrado e fortalecer a cadeia da restauração, o parque fez a retirada de 10 ha de eucalipto em suas adjacências. A área abrigará quatro modelos de restauração e servirão de vitrine para o novo viveiro comercial. “Com essa experiência acumulada, seremos protagonistas para efetivar a restauração ecológica na região, que ganha novas cores neste momento tão importante. Estamos confiantes que a junção de todas essas ações tornará a restauração mais bem-sucedida e benéfica para todos os envolvidos. Isso representa mais benefícios ao meio ambiente, mas também para a agricultura, que ficará mais sustentável e competitiva”, finaliza a bióloga e coordenadora do parque, Gabrielle Bes da Rosa.

 

A REDE DE COLETORES DE SEMENTES E SUA HISTÓRIA NA REGIÃO

 

Conforme relembra a bióloga e coordenadora do Parque Vida Cerrado, Gabrielle Bes da Rosa, a mobilização para criação da rede de coletores teve início em 2011, através do Programa LEM APP 100% Legal (para atendimento do Programa Produzir e Conservar, da Monsanto em parceria com a Conservação Internacional). O projeto teve seu momento de grande desenvolvimento, mas atualmente está estagnado em Luís Eduardo Magalhães. Em sua atuação, o parque participou ativamente da sensibilização e da identificação de lideranças das comunidades rurais, da definição da primeira lista de sementes e respectivos valores para remuneração, fez várias visitas periódicas para orientação no tocante à coleta, armazenamento, pesagens, pagamento e recolhimento das sementes e ajudou no planejamento e projeção do fluxo de mercado de sementes da rede da região e da estrutura básica para constituição da organização da cadeia. Além disso, ministrou cursos para coleta, beneficiamento, armazenamento e a importância da organização da rede para engajar os coletores e garantir a qualidade e o escoamento das sementes. “Inicialmente, a rede era composta por 25 coletores e, conforme o projeto foi sendo desenvolvido, mais comunidades se interessaram em aderir. Passado todo esse período desde a sua criação, observamos que a rede de coletores de sementes merece grande atenção. No primeiro ano, tivemos uma única fonte de recursos para compra de sementes e constatamos um crescente aumento no número de coletores. Apesar disso, constatamos que é preciso diversificar as fontes de recursos para compra, promover diversos avanços organizacionais junto às comunidades para que as redes passem a ter autogestão a partir de suas lideranças comunitárias e consolidar um mercado que demande sementes. É exatamente isso que o Parque Vida Cerrado se propõe a fazer neste novo momento, no qual o parque novamente deve mostrar-se como um dos principais protagonistas na restauração ambiental da região”, destaca Rosa.  

 

Heloíse Steffens / Assessoria de imprensa

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