24 de julho de 2025 Caliandra: símbolo de resistência e liberdade no Cerrado

A história da loba-guará Caliandra emocionou o Brasil desde seu resgate em 2020, ainda filhote, até sua reintrodução na natureza pelo Parque Vida Cerrado, em 2022.

Símbolo da resistência do Cerrado e de um modelo bem-sucedido de conservação, Caliandra viveu em liberdade por três anos, teve três ninhadas e contribuiu com dados valiosos, colhidos por meio de seu colar de monitoramento e diversas pesquisas. No fim de julho, no entanto, sua jornada foi interrompida de forma trágica: o animal foi encontrado morto, provavelmente vítima de atropelamento em uma estrada vicinal na região de Barreiras, Bahia.

Recentemente, a loba havia passado por uma campanha de recaptura entre maio e julho, na qual foi realizado um check-up que atestou sua excelente condição de saúde. Ela estava lactante, indicando sua terceira reprodução em ambiente natural. O novo colar de monitoramento, instalado nesse processo, foi essencial para localizar seu corpo após o acidente. A nossa equipe foi a campo para tentar localizar os filhotes de lobo-guará dessa nova ninhada, mas ainda sem sucesso. É possível que o macho tenha tentado movimentar os filhotes após a perda da fêmea.

Vale lembrar que os lobos-guará são considerados o símbolo do Cerrado e são o maior canídeo silvestre da América do Sul. Outra curiosidade é que eles têm um papel importante na semeadura de campos. Como comem muitas frutas e andam bastante ao longo do dia, acabam espalhando as sementes por onde passam.

No entanto, infelizmente, são classificados pelo Ministério do Meio Ambiente como uma espécie vulnerável, em uma lista de animais ameaçados de extinção. Por isso, o trabalho do Parque Vida Cerrado, juntamente com o apoio de tantas empresas e parceiros, e de outras instituições de conservação dessa espécie é tão importante.

Chamado à prevenção

O caso gerou comoção entre ambientalistas, pesquisadores e instituições parceiras, como o Instituto Lina Galvani, CENAP/ICMBio, INEMA, Galvani, Amigo do Lobo e produtores rurais da região. “Essa despedida dói, mas o legado de Caliandra permanece como exemplo de superação, convivência e compromisso com a vida silvestre”, Gabrielle Rosa, coordenadora do Parque Vida Cerrado.

A morte de Caliandra traz à tona um problema urgente: os atropelamentos de animais silvestres. Estima-se que cerca de 475 milhões morram atropelados anualmente nas estradas brasileiras, segundo dados do Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE/UFLA), o que significa um animal a cada 15 segundos. No Brasil, a questão é agravada pela falta de estrutura viária e pelo fato de elas não serem planejadas para proteger a fauna que circula livremente ao redor dessas estradas, principalmente em vias já mais próximas de regiões urbanas.

Diante disso, o Parque Vida Cerrado e seus parceiros reforçam orientações para reduzir acidentes com fauna silvestre:

  • Diminuir a velocidade em áreas com vegetação nativa;
  • Evitar dirigir à noite em regiões com travessia de fauna;
  • Não descartar lixo, principalmente restos de alimentos, nas margens das estradas;
  • Instalar sinalização e redutores de velocidade em propriedades rurais;
  • Investir em passagens de fauna e cercas direcionadoras;
  • Apoiar programas de educação ambiental com trabalhadores e comunidades.

“Caliandra nos mostrou que é possível devolver a vida à natureza. Agora, cabe a nós garantir que outras histórias como a dela não terminem da mesma forma. Sua perda precisa se transformar em compromisso”, afirma Gabrielle.

O trabalho de conservação da espécie continua, com novos esforços de monitoramento e educação ambiental na região do Matopiba. A memória de Caliandra seguirá viva, não apenas nos estudos científicos ou em seus filhotes, mas em cada passo dado na construção de um Cerrado mais seguro para humanos e animais.

Seguimos com o trabalho: novas ações de conservação da espécie estão sendo feitas como ações de educação ambiental e de monitoramento reafirmando nosso compromisso com a conservação. Por ela e por tantos outros, não podemos perder a esperança de transformar — mesmo que pouco a pouco — o mundo ao redor desses animais incríveis.

O Projeto de Reabilitação de Lobos-guará

O projeto de reabilitação e soltura é viabilizado com apoio técnico do ICMBio e financiamento de empresas privadas, como Sementes Oilema, Fazenda Irmão Gatto Agro, Condomínio Santa Carmem e Galvani. Essas parcerias combinam recursos financeiros, conhecimentos técnicos e acesso a propriedades rurais para soltura dos animais.

E aqui deixamos o nosso agradecimento a todos que fizeram parte da jornada de Caliandra. À equipe do Parque Vida Cerrado, à Oilema, às Fazendas Irmãos Gatto Agro, Condomínio Agrícola Santa Carmem, Instituto Lina Galvani, Galvani, CENAP/ICMBio, Amigo do Lobo, INEMA, Fazenda Passo Fundo, o nosso muito obrigado.

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